SÃO PAULO, PRAIA GRANDE - ÚLTIMOS MINUTOS DO ANO DE 2011
Todos estavam de olho no grande telão instalado na praia, esperando pela contagem regressiva. A praia estava lotada e toda a turma reunida para a grande festa de ano novo. Mônica usava um vestido todo branco, comprado especialmente para a ocasião e estava de mãos dadas com Cebola. Magali estava terminando de comer um pedaço de melancia que tinha comprado para refrescar o calor e Cascão estava abraçado com Cascuda esperando pela virada do ano. Um grande trio elétrico dava um show na praia e a banda TMJ também ia tocar depois da meia noite.
Os mais apressados já tinham começado a soltar fogos de artifício e o barulho das explosões se misturava com a música do trio elétrico mais o grito da multidão. Lanternas coloridas foram penduradas por todos os lados e havia muitas pessoas na beira da praia prontas para fazerem suas oferendas a Iemanjá.
Vendedores se espremiam entre a multidão tentando vender água, cerveja, sucos e refrigerantes cobrando o dobro do preço que era oferecido pelos supermercados. Outros vendedores ofereciam fatias de melancia e abacaxi para espantar o calor, ou então cachorro-quente, espetinhos de camarão, balas, doces, chocolates e outros produtos.
Ângelo acompanhava tudo do alto, esperando pela virada do ano. Daquela vez ele estava sozinho já que Nina teve que se reunir com outras ninfas por causa de um derramamento de óleo. Mais tarde, caso ela não estivesse muito cansada, eles se poderiam se encontrar.
Seus olhos estavam fixos no telão. Embora soubesse que tempo era algo relativo e que o ano novo já tinha chegado em várias partes do globo, ele sentia vontade de parar o tempo e evitar que o ano de 2012 chegasse. Como não podia fazer isso, só lhe restava esperar.
A música cessou e uma voz no microfone anunciou o início da contagem regressiva.
- Atenção, galera! Contagem regressiva! Todo mundo contando comigo! 10, 9, 8...
Enquanto a multidão ia contando, os números apareciam no telão em ordem decrescente. E a cada número, o coração dele apertava mais e mais por causa da sua impotência diante da situação. Ele não podia fazer nada a não ser acompanhar a contagem e então entrar em definitivo no ano de 2012.
- 5, 4, 3, 2, 1! Feliz ano novo!
Os fogos, que no início eram tímidos, começaram a estourar freneticamente junto com gritos, risos, aplausos e música que tocava por toda parte. Fogos de todas as cores e formatos explodiam no céu noturno, fazendo um verdadeiro show para os olhos da multidão que acompanhava a queima como que hipnotizada.
A banda voltou a tocar enquanto todos se cumprimentavam efusivamente a chegada de um novo ano. Mônica e Cebola trocaram um beijo caloroso, sendo imitados pelos outros casais da turma. Os amigos se abraçavam, desejando feliz ano novo e todos festejavam um novo começo.
- Ô Ângelo, tá fazendo o que aí? Vem pra cá! – eles chamaram, fazendo com que o anjo descesse até a turma. Ele também recebeu vários abraços de todos e as meninas até lhe deram beijinhos na face, deixando-o com o rosto vermelho.
- Feliz ano novo, Ângelo! E dê um beijo na Nina por mim.– Dorinha também o abraçou, pousando um beijo no rosto dele e de repente o coração dela apertou. Aquilo sempre acontecia quando havia algo errado e ela percebeu que ele estava com algum problema muito grave.
Por causa da festa, do barulho e de toda a agitação, ela não falou nada e continuou comemorando com os amigos normalmente.
- Vamos pular as sete ondas no mar! – alguém falou e todos correram para a água, tiraram os sapatos e começaram a pular as ondas.
Ângelo ficou de fora, olhando o pessoal pulando as ondas entre risos e gritinhos. Mônica e Cebola pulavam de mãos dadas e estavam radiantes como duas crianças, pulando e fazendo seus pedidos. O que será que eles pediram? Ele não sabia. Sabia apenas que boa parte daqueles pedidos não ia se realizar.
- Ei, você não vem? – Cebola chamou, acenando para ele.
- Não, vou ficar de fora. Tá bom aqui. – de que adiantava fazer aquilo? Ele tinha somente um único desejo e sabia que ele não ia se realizar. Tudo estava planejado e não havia como evitar o que estava por vir.
Depois que duas bandas se apresentaram, foi à vez da TMJ. Eles subiram ao palco. Mônica no vocal, Magali na segunda voz, Cascão no contra baixo, Cebola na guitarra e DC nas baterias. Todos estavam felizes e radiantes diante da grande platéia que vibrava esperando por uma boa música. E eles não desapontaram quando começaram a cantar a música “marcas do que se foi”, de Os Incríveis. Era uma música antiga, da jovem guarda, que eles adaptaram para um ritmo mais pop, ideal para os jovens.
A letras era simples, mas fez sucesso entre todos, trazendo palavras de otimismo com o novo ano que iniciava.
Este ano quero paz
No meu coração
Quem quiser ter um amigo
Que me dê a mão...
O tempo passa e com ele
Caminhamos todos juntos
Sem parar
Nossos passos pelo chão
Vão ficar...
Marcas do que se foi
Sonhos que vamos ter
Como todo dia nasce
Novo em cada amanhecer...(2x)
Este ano quero paz
No meu coração
Quem quiser ter um amigo
Que me dê a mão...
O tempo passa e com ele
Caminhamos todos juntos
Sem parar
Nossos passos pelo chão
Vão ficar...
Marcas do que se foi
Sonhos que vamos ter
Como todo dia nasce
Novo em cada amanhecer...(4x)
(para quem quiser ter uma idéia, tem esse vídeo do Youtube. Não é bem o que eu queria, mas chega bem próximo. Aí é usar a imaginação e fazer de conta que é a Mônica cantando:https://www.youtube.com/watch?v=qwuaOBzDm5A)
Quando eles chegaram ao ultimo refrão, a música instrumental parou ficando somente os jovens cantando e incentivando a platéia a cantar também. E todos cantavam, batendo palmas vibrando com aquela música que era tão cheia de energia e parecia uma injeção de ânimo e otimismo para todos.
Ao ouvir a platéia cantando junto e batendo palmas, seu coração encolheu de tal forma que ele chegou até a sentir uma dor aguda no peito. Sua garganta apertou e ele viu que não ia conseguir segurar as lágrimas. Não, aquilo era demais para ele. Havia muita esperança naquela música, otimismo e certeza de que aquele ia ser um ano maravilhoso. Todos tinham sonhos, planos, metas e projetos. Tudo parecia em paz e ninguém se preocupava com o futuro.
Ângelo olhava para o palco, com os olhos cheios de lágrimas e as pessoas cantando a sua volta e batendo palmas o deixavam ainda mais desesperado. Sua vontade era de gritar e avisar a todos sobre o que ia acontecer naquele ano. Sua respiração estava alterada e seu corpo tremia enquanto ele olhava vidrado para o palco onde seus amigos passavam para todos uma mensagem de otimismo e esperança.
- Ângelo? Ângelo, o que foi? – uma voz que parecia vir de outro mundo chamou sua atenção e ele virou para o lado, vendo Dorinha puxando sua camisa e tentando lhe falar alguma coisa que não dava para ouvir por causa do barulho. Ele chegou seu ouvido mais perto da boca dela. – O que foi? Algum problema? Você tem andado estranho...
Então era aquilo. Ela tinha percebido que alguma coisa estava errada. Aquilo não era surpresa. Por mais que quisesse falar, ele sabia que não podia contar nada. Nem para ela, nem para ninguém.
- Dorinha... eu tenho que ir!
- Já? Mas o que houve?
- Eu não posso falar, sinto muito. Tenho que ir. A Marina está aí do seu lado, pode ficar tranqüila. Até...
Apesar da insistência da jovem, ele saiu dali voando o mais rápido que suas asas permitiam. Durante um tempo ele até estava disposto a agüentar firme sem desmoronar, mas aquela música tinha ido além das suas forças. Doía demais ver seus amigos tão felizes e não poder avisá-los do que estava por vir. Era injusto demais, cruel demais e não havia muito que ele podia fazer.