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2012 - Capítulo 2
2012 - Capítulo 2

Capítulo 2 - Tem início a contagem regressiva

 

COLÚMBIA BRITÂNICA, 2012

Aquele dia parecia ter sido feito para o caos. A multidão gritava, protestava e os mais exaltados quebravam os vidros de um carro com pedaços de pau enquanto outros tentavam virar o veículo. O barulho era ensurdecedor e por toda parte pessoas empunhavam cartazes com diversos dizeres:

Maia 2012
Abaixo o G8
Livre comércio agora
Acabe com o lixo tóxico
Parem com as dívidas
Boicotem os sweatshops (expressão usada para fábricas onde os trabalhadores são extremamente explorados)

E várias outras palavras de ordem. O batalhão de choque estava tendo dificuldades em conter a multidão enquanto chegava uma limusine que levava duas bandeirinhas dos EUA, tinha duas motos a frente e vários carros atrás. Seu passageiro era o portador da razão pela qual aquela reunião tinha sido convocada. 

A reunião estava sendo feita em uma grande sala, onde os chefes de estado de cada país integrante do G8 aguardavam seu começo junto com seus respectivos interpretes, secretários e assessores. A sala não estava exatamente em iluminada. O ambiente parecia um tanto escuro exceto pelos fachos de luz que passavam pelos vãos da persiana. Todos estavam sentados em uma mesa no formato octogonal. Na frente de cada integrante, sobre a mesa, estavam o nome e a bandeira dos seus respectivos países. 

Estavam ali os presidentes do Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia, todos esperando pelo oitavo membro e assim iniciar a reunião do G8. 

Eles não tiveram que esperar muito e logo a pessoa que convocou aquela reunião entrou na sala, junto com seus assessores e seguranças. Era o presidente dos EUA, um homem negro de que parecia ter cerca de 60 anos e com um ar muito solene. 

- Bom dia. – ele começou falando com uma voz baixa e calma, ainda que um tanto pesada e melancólica. – Eu gostaria de me reunir com meus colegas chefes de estado em particular. 

Um dos integrantes sussurrou algo para seu interprete, que traduziu para o presidente. 

- O Sr. Macain quer que seus interpretes estejam presentes. 

O presidente falou para ele em tom cordial, mas mantendo um ar grave. 

- Sr. presidente, eu posso garantir que o senhor vai entender perfeitamente o que eu tenho a dizer. 

Mesmo hesitando um pouco, o outro pareceu entender que se tratava de um assunto grave e dispensou seu interprete, que saiu da sala juntamente com os outros interpretes, assessores e até a secretária encarregada de gravar a reunião, deixando ali somente os integrantes do G8. 

Quando as portas se fecharam, o presidente dos EUA voltou-se para eles com um ar triste e pesado e começou a dar a notícia que ia mudar toda a humanidade. 

- Há seis meses, eu fui colocado a par de uma situação tão devastadora que a princípio eu me recusei a acreditar. 

Todos o olhavam atentamente, acompanhando cada uma de suas palavras. Ele continuou.

- No entanto, através da dedicação e esforço de nossos cientistas mais brilhantes, confirmamos a sua veracidade. – ele fez uma pequena pausa. O ar dentro daquela sala estava tão denso que dava até para cortar em fatias. Os outros presidentes o olhavam com mal disfarçada ansiedade, esperando pela notícia bombástica. 

Sem esperar muito, o presidente resolveu ir direto ao assunto. 

- O mundo, como o conhecemos, logo chegará ao fim. 

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VALE CHO MING, TIBETE - 2010

Em um local remoto, entre várias montanhas com os picos cobertos de neve, estava um pequeno vilarejo situado no vale Cho Ming, Tibete. Era uma pequena vila distante dos grandes centros urbanos. Normalmente era um lugar tranqüilo e silencioso, ideal para quem quisesse se aventurar um pouco ou apenas ficar longe dos barulhos e caos das grandes cidades. 

Naquele dia, um dia atípico, o vilarejo estava mais movimentado do que nunca. Helicópteros voavam pelos céus e uma frota de caminhões chegava a todo instante trazendo materiais de construção e outros saiam levando pessoas. 

Um homem falava em um megafone, dando instruções para várias pessoas que deixavam suas casas apressadamente levando apenas itens essenciais. 

- Esse projeto criará muitos empregos! O Partido e o país os ajudarão em suas realocações.

Soldados do governo ajudavam pessoas a subirem nos caminhões que a toda hora deixavam a cidade levando pessoas para seus novos lares enquanto outro grupo de moradores estava reunido em frente a um palanque, onde um homem que parecia ser um general fazia várias perguntas. 

- Quem sabe escrever?

Várias pessoas levantaram as mãos. 

- Quem sabe ler?

As mesmas pessoas mantiveram suas mãos levantadas. 

- Quem sabe soldar?

Os demais abaixaram as mãos e um deles, que até então tinha ficado quieto, levantou a sua mão segurando o chapéu, esperançoso por arrumar um bom emprego e poder enviar dinheiro a sua família. O general apontou para ele, como que o selecionando. De repente, o barulho de um alarme se fez ouvir e uma grande explosão nas montanhas chamou a atenção de todos. Pelo que os soldados do governo tinham informado, a intenção era construir ali uma grande represa, o que prometia gerar muitos empregos para os habitantes locais. Ninguém ali sequer desconfiava das reais intenções daquele projeto. 

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HOTEL EMPIRE GRAND, LONDRES - 2011

Praticamente no outro lado do mundo, em um ambiente muito diverso da simplicidade do vilarejo, um homem entrava em quarto decorado com extremo luxo trazendo consigo uma maleta. Era o quarto de um luxuoso hotel, suíte imperial. Era a mais cara e tinha uma bela vista para o Big Ben, embora ninguém ali estivesse interessado em admirar a bela torre. 

Outro homem de óculos aparentando mais de 60 anos pegou a maleta da sua mão enquanto um terceiro passava pelo seu corpo um detector de metais. Quando viram que tudo estava em ordem, ele teve permissão para entrar. 

Alguns minutos depois, um homem vestido em estilo árabe e deitado em almofadas dispostas no chão lia atentamente um documento em um tablet. As palavras em árabe que apareciam na tela eram refletidas pelas lentes dos seus óculos e seus olhos demonstraram grande preocupação. 

O homem que tinha chegado com a maleta aguardava sentado em uma cadeira e tomando uma xícara de chá. Talvez por um pouco de impaciência, ele interrompeu a leitura. 

- Vossa alteza já teve a oportunidade de estudar o dossiê? – ele perguntou com a voz baixa e fria.

O príncipe tirou os óculos e olhou para ele, procurando a todo custo disfarçar sua aflição. 

- Precisa entender que eu tenho uma família muito grande, Sr...
- Isaacs. – o visitante completou. 
- Um bilhão de dólares é muito dinheiro. 
- Receio que a quantia seja em euros, alteza. – o homem corrigiu, ainda mantendo o tom de voz calmo e frio.

O príncipe olhou para ele com um misto de incredulidade, assombro e angústia. Aquilo com certeza ia custar praticamente toda sua fortuna, mas não havia outro jeito. 
 
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MUSEU DO LOUVRE, PARIS - 2011

Naquela hora, o museu estava fechado. Era noite e certamente não havia nenhum visitante. Vários homens com lanternas especiais feitas para não danificar as obras de arte traziam uma espécie de carrinho com um container e pararam diante de um quadro muito especial. Ao abrir as portas do container, um quadro da Mona Lisa foi revelado. 

Um homem que aparentava ter perto de 60 anos acompanhava toda a operação junto a uma mulher com cerca de 24 anos. 

- Coloco muita fé na sua organização. – ele falou para a jovem enquanto observava os homens tirando o quadro do container e o colocando no lugar da Mona Lisa original que foi guardada em segurança. Esses homens usavam luvas e tinham manuseado o quadro com extrema cautela.
- É uma réplica perfeita, Roland. Há muitos fanáticos lá fora que poderiam danificá-la. Pense nas lindas estátuas de Buda que explodiram no Afeganistão. – Ela foi explicando ao curador do museu, que ainda demonstrava certo receio com aquela troca. - Nossa Organização Patrimonial já selecionou obras do Museu Britânico e Hermitage. 

Quando levaram o quadro original embora, ambos se aproximaram da cópia que tinha sido colocada em seu lugar e ele falou. 

- Acho que estará segura agora, escondida em algum lugar, em algum cofre na Suíça. 
- Perfeitamente segura, Roland.

Ele colocou os óculos e começou a examinar o quadro com a lanterna, como que procurando por uma possível falha. Aos olhos de uma pessoa comum e talvez até de especialistas, a cópia era perfeita, idêntica ao original. Não apenas as formas e cores eram idênticas, como até as pequenas imperfeições, sulcos e reentrâncias que tinham se formado ao longo do tempo.

- Somente análise com infravermelho pode saber a diferença. – Ela explicou, orgulhosa pela perfeição que seus especialistas tinham conseguido com aquela cópia. 

O curador fez um ar meio enigmático e respondeu ainda explorando a pintura com os fachos da lanterna, coisa que ele jamais faria com o quadro original. 

- Mas ainda é falsa.